2.7.15

Caricatura de Cortázar

Nem tão da boca do forno assim: Caricatura de Julio Cortázar (1914-1984)
Não vou falar muito dele, apenas que fui capturado por sua escrita ao ler seu livro de contos" Bestiario". Depois dele nunca mais consegui ver a realidade como uma coisa única, he he.

Abaixo segue uma frase de um livro de conversas com o escritor e um trecho do conto "El perseguidor". Junto vão algumas coisas que escrevi faz muito tempo, neste meu blog.

"Quando vou escrever um conto, sinto hoje, como há quarenta anos, o mesmo tremor de alegria, como uma espécie de amor."

(Trecho de Conversas com Cortázar de Ernesto González Bermejo - Jorge Zahar Editor- Tradução de Luís Carlos Cabral e Prefácio de Eric Nepomuceno)

De El perseguidor:


"-Bueno, de acuerdo, pero le voy contar lo del métro a Bruno.El otro dia mi di bien cuenta de lo que pasaba. Me puse a pensar em mi vieja, después en Lan y los chicos, y claro, al momento me parecía que estaba caminando por mi barrio, y veía las caras de los muchachos, los de aquel tiempo. No era pensar, me parece que ya te dicho muchas veces que yo no pienso nunca; estoy como parado en una esquina viendo pasar lo que pienso, pero no pienso lo que veo.¿Te das cuenta? Jim dice que todos somos iguales, que en general (asi dice) uno no piensa por su cuenta. Pongamos que sea así, la cuestión es que yo había tomado el métro en la estación Saint-Michel y en seguida me puse a pensar en Lan y los chicos , y ver el barrio. Apenas me senté me puse a pensar en ellos. Pero al mismo tiempo me daba cuenta de que estaba en el métro, y vi que al cabo de un minuto más llegábamos a Odéon, y que la gente entravay salia. Entonces segui pensando en Lan y vi a mi vieja cuando volvía de hacer compras, y empecé a verlos a todos, a estar com ellos de uma manera hermosíssima, como hacia mucho que no sentia. Los recuerdos son siempre un asco, pero esta vez me gustaba pensar en los chicos y verlos. Si me pongo a contarte todo lo que vi no vas a creer porque tendría para rato. Y eso que ahorraria detalles. Por ejemplo, para decirte una sola cosa, veía a Lan con un vestido verde que se ponía cuando iba al Club 33 donde yo tocaba com Hemp. (NR:o vibrafonista LionelHampton) Veía el vestido con unas cintas, un moño, una especie de adorno al costado y un vuello...No al mismo tiempo, sino que en realidad me estaba paseando alrededor del vestido de Lan y lo miraba despacito. Y después miré la cara de Lan y la do los chicos, y despéus me acordé de Mike que vivia en la pieza de al lado, y cómo Mike me había contado la historia de unos caballos selvajes en Colorado, y él que trabajava en un rancho y hablaba sacando pecho como los domadores de caballos...
- Johnny - ha dicho Dédée desde su rincón.
-Fijate que solamente te cuento un pedacito de todo lo que estaba pensando y viendo. ¿Quanto hará que te estoy contando este pedacito?
"


(E o papo continua até o saxofonista Johnny mostrar a Bruno que no pequeno tempo que ele viajou no metrô de Paris, ele na verdade "viajou" por muitos outros lugares - ele pensou em muitas situações em detalhes etc- o que levaria horas para contar . É a velha questão do tempo que cabe no tempo real marcado pelos relógios que ele odeia) Este trecho está no conto El Perseguidor de Julio Cortázar e está no livro "Las Armas Secretas" - Editora Catedra Letras Hispánicas (Edição de Susana Jakfalkvi)

Nota da Redação: Este conto, um dos "mais realistas"de Cortázar é uma homenagem explícita a Charlie Parker e sua "elasticidad retardada" definição bacana para a linguagem rítmica dele, segundo uma nota deste livro. Em síntese, como Parker conseguia tocar daquela maneira com todas aquelas notas quase não entrando no tempo real, mas finalmente conseguindo realizar a proeza de encaixar tudo - a sua mágica irrepetível.
Desconfio que este conto foi a base , ou digamos, a inspiração para o filme "Round midnight"(feito em 1986) de Bertrand Tavernier que fez o roteiro com David Rayfiel, embora não tenha sido creditada a Cortázar- no caso da idéia mãe, houve uma fabulosa coincidência de temas.



No filme disseram que o roteirista e diretor procuraram contar um pedaço da vida de Lester Young misturada com a de Bud Powell. O curioso é que este filme dizem que foi baseado na vida de um sujeito (vivido na tela por Francis Borler) que se chamava Francis Paudras (falecido em 1997), ele é o Bruno da vez; o cara que tenta salvar o jazzman terminal. O bacana deste filme é que o saxofonista em questão (Dale Turner) é representado pelo grande Dexter Gordon nos últimos dias de sua estada neste planeta ( cuja vida parece também é retratada na mistura com os dois anteriores e mais a figura de Charlie Parker (que está oculto - será o grande outro?).
Enfim, de qualquer forma está alí representado o jazzman viciado, que resiste a tudo e que tem uma cuca fabulosa e um som pra lá de Bagdá. Na verdade o filme é uma grande "jam-session"- até Herbie Hancock faz uma ponta nele. Vale a pena ser visto.
Depois, para completar a rodada em torno da meia noite, assista ao sensacional "Bird" de Clint Eastwood. Esse é de cortar o coração e aumentar o volume do DVD. Cuidado com os vizinhos! Respeite o direito deles dormirem em paz.

Obs: Cortázar inspirou também Antonioni com seu conto "Las babas del diablo" que resultou no antológico filme "Blow-Up" (aqui levou o título fraquinho "Depois daquele beijo").
Godard também não resistiu ao charme de Cortázar, com seu "Week End a francesa", bebeu nas águas do escritor argentino (registrado na embaixada da Argentina em Bruxelas ) ao adaptar o conto "A Auto-estrada do sul".
Nota final que nada tem a ver com a história: A Wikipédia informa que Dexter Gordon já tinha aparecido em outros filmes , especialmente em "The Connection" de 1960 (filme que teve a trilha sonora composta por ele). Recebeu uma indicação para o Oscar justamente por sua grande atuação em "Round Midnight". Faleceu 4 anos depois das filmagens em abril de 1990, aos 67 anos de idade. Pois é, muitos artistas morrem cedo.

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