19.6.15

Caricatura de Gogol

Da beira do forno (pra fechar a tampa dos russos, talvez): Caricatura de Gogol, ou Nikolai Vasilievich Gogol (1809-1852). Nasceu na Ucrânia (que pertenceu ao Império Russo e depois à extinta URSS) mas escreveu toda sua obra em russo, e é pois considerado um escritor da velha Rússia, apesar das atuais reivindicações nacionalistas ucranianas. Sua formação teve forte influência de sua mãe, mulher muito religiosa (Gogol perdeu seu pai cedo, quando tinha 16 anos), tal educação o levou a desenvolver um extremado misticismo. Sua saúde era considerada frágil. Viveu menos que Anton Tchekhov (1860-1904) que tinha partido desta para melhor aos 44 anos. Gogol foi para o andar de cima aos 42 carregando com ele toda uma elaborada hipocondria. Como já tinha dito aqui, Fiódor Dostoiévski (1821-1881) reconheceu, sem exagero o valor de Gogol quando confessou em algum lugar:"Todos nós saímos de O Capote de Gógol"." Dizem os especialistas que "O Capote" inaugurou o realismo por aquelas bandas. Gogol foi muito amigo de um outro escritor seminal- matriz da moderna literatura russa: Aleksandr S. Pushkin (que também merece uma caricatura) que lhe sugeriu vários temas, entre os quais "O Inspetor Geral" e "Almas Mortas" - este último romance, que ficou inacabado , pois Gogol foi atacado por uma violenta tristeza que aumentou sua melancolia depois da morte de Pushkin. As circunstâncias da morte de seu amigo, abatido num estúpido duelo fez com que ele se fixasse na idéia de terminar "Almas mortas", em sua homenagem. Mas isso demorou 15 anos e mesmo assim ficou pela metade. Parece que esse trabalho incansável de escrita, foi sempre considerado insatisfatório por ele. Contribuiu também para essa demora a sua inquietação, que em meio a crises psíquicas o levou a constantes mudanças pelo território europeu - talvez em busca de recuperação.Nesse embalo construtivo/ destrutivo, dizem que chegou a queimar um manuscrito do que seria o segundo volume de "Almas Mortas" (sua continuação). Essa dívida com Pushkin parece ter contribuido para sua passagem rápida por este planetinha azul. O resultado foi que cada vez mais abatido, mergulhado em idéias místicas e numa hipocondria feroz acabou morrendo de inanição. Dele li as novelas "Perspectiva Neviski", "O Capote", "O Nariz" e "Diário de um Louco". Meu amigo Lucio Flavio Pinto, num almoço na praia do Leme, um dia, recomendou a leitura de "Almas Mortas" dizendo que ali eu encontraria um "país" que figurava muito parecido com o Brasil, com personagens que lembravam nossos trambiqueiros compradores de almas e os "mujiques" tais como nossos catrumanos, pobres almas negociadas numa contabilidade macabra. Motivado por esse enigma, caí dentro do livro. Fiquei fascinado e cheguei a entrar numas de fazer um ensaio sobre ele, sua relação com o Sertão etc... Nas minhas pesquisas, consegui achar e depois perdi um interessantíssimo prefácio feito por Otto Maria Carpeaux, que falava da literatura de Gogol. Um dia eu o acharei, no meio das minhas camadas geológicas de livros e anotações sem sentido. Talvez aí voltarei a pegar esse fio solto da meada... Ah, não poderia escapar esta oportunidade de cometer uma pequena teoria insana sobre a importância do"nariz" na obra de Gogol e a constância desse mesmo tema em alguns trechos que Dostoiévski insiste em enfiar em "Os Irmãos Karamazov. Antes de mais nada, estudando bem a fisionomia desse autor, percebe-se a projeção de sua "nareba" já é um bom indício para entender a sua importância territorial dentro de suas preocupações literárias . Interessante é o tema voltar em trechos de "Os Irmãos Karamazov" . Será que se tratou de citação (recurso pós-moderno por excelência), ou esse é um problema russo fundamental. Depois de muito matutar achei que o clima é que explicava parte dessa fixação nasal: é tudo por causa do inverno, é por causa da neve e do gelo que atacam primeiro o nariz (e as orelhas- embora não exista uma novela chamada "A orelha"). Mas entendo que, como o nariz é a parte mais proeminente da pessoa (em geral), o gelo pega o tal de frente e faz dele rapidamente um picolé, que quebra e cai sem que o sujeito perceba, num mínimo esbarrão. Outra coisa interessante é o tema do "esbarrão" também constante na literatura do pequeno funcionário do submundo russo. Mas isso será tema de outro textículo. Obs: O Barthes também tem um lance com o nariz, quando ele fala no seu livro "Fragmentos de um Discurso Amoroso" que um dos sinais de que o amor está por desandar, é aquele pequeno sinal de podridão aparecendo na ponta do nariz do falecido - coisinha de nada, que os mais desatentos não percebem, mas que vai se transformar em algo maior e insuportável…argh! Bem, chega de lero. Bom final de semana! Clique na imagem para ampliar e VER melhor

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