24.6.15

Caricatura de Balzac

Da beira do forno: Honoré de Balzac ( 1799- 1850) Caricaturar Balzac é mole: "gordote", meio esculachado, aparência feia. Falar de Balzac é que não é fácil. O cara era fera, sua obra grandiosa em volume e variada em profundidade. Deixa qualquer um tonto. Escreveu muito para ganhar dinheiro, pois vivia endividado. Estava sempre "pendurado" no armazém da esquina, nos botecos da vida, no alfaiate, na padaria…. Para pagar suas contas metia a pena no papel sem dó nem piedade e trabalhava como um escravo. E em algumas vezes nas suas mal traçadas linhas, se deteve em factóides de salões, o que deixou muito de sua obra datada. Pode-se dizer que ele constitui num enigma e um paradoxo em si mesmo. É freqüentemente utilizado como exemplo para mostrar que a biografia do sujeito - sua origem de classe- o conjunto de valores de sua classe não possuem diretamente influência marcante em sua obra, ou definem as tendências ideológicas dominantes nela- coisas que poderiam macular sua escrita, estabelecer os filtros de suas escolhas. Sua obra principal mostra que um sujeito que era um típico elemento que se poderia definir como "classe média" (?)- subproduto de burguesia ascendente- hedonista, um exemplar de "bon-vivant" foi aquele que fez o retrato mais ácido de sua classe e de seu tempo. Ao atacar sua própria classe, a mostra nua e crua e bota em cena a decadência da aristocracia que se corrompeu e foi corrompida pela burguesia "revolucionária".Em outras palavras, jogou "merde" no ventilador. O marxismo simplificador espalhado pela visão estética stalinista sempre tentou reduzir a obra do sujeito à sua origem de classe. Se o sujeito nascia no berço da burguesia, portanto só poderia escrever tolices e guloseimas para entreter sua classe. Não estava de todo errada, mas era uma grosseira interpretação,isso está na cara. Claro que Balzac não era flor que se cheirasse, era monarquista, católico das antigas, cheio de idéias conservadoras naquela cachola. Claro botava nas falas de seus personagens palavras cheias de bolor, mas não conseguiu se dobrar ao grilhão ideológico - sua arte foi maior - o bicho carpinteiro da crítica e da ironia alí foi mais forte- mostrou que o negócio no capitalismo triunfante era a "grana", a aparência. Mostrou como o ser humano sob o sistema capitalista se "coisificava", se amesquinhava, se corrompia. Como disse Victor Hugo, num discurso por ocasião da morte de Balzac, ele querendo ou não, foi um escritor revolucionário. Não por acaso era escritor preferido de Marx e Engels, pois era prova de suas teorias. (isso eu retirei da Wikipédia). Balzac escreveu para o entretenimento, mas deu seu recado de forma magnífica. George Lukács que combateu as visões estreitas da compreensão da obra literária utilizou exatamente de Balzac para desenvolver sua crítica. Em seus "Ensaios sobre Literatura" (1968- Civilização Brasileira, pgs 101-121.Com prefácio sensacional do saudoso Leandro Konder) disse que Balzac escreveu seu romance "As Ilusões Perdidas" no auge de sua maturidade. E nele trouxe algo totalmente diferente: "Criou nessa obra aquele novo tipo de romance que exerceu decisiva influência na evolução literária de todo o século XIX: o romance da desilusão, isto é , o romance que representa como o falso conceito de vida, necessariamente criado pelo homem da sociedade burguesa, desaba miseravelmente ao chocar-se com a brutal prepotência da vida capitalista". Ele mais adiante explica que ocorre um desencanto expresso nesta obra magna de Balzac: "a concepção do homem, a concepção da sociedade e da arte, etc., surgidas da evolução burguesa, isto é, os mais altos produtos ideológicos da evolução revolucionária burguesa,… se reduzem a meras ilusões, ao se defrontarem com a realidade da economia capitalista". No romance "As Ilusões Perdidas" de acordo com o velho pensador húngaro, "vemos, pela primeira vez de modo completo, como a economia, o capitalismo, leva os ideais burgueses a uma trágica dissolução." Não vou me alongar aqui nesse "textículo". Só queria lembrar que ele tinha um projeto de maluco: escrever o que ele denominou "A Comédia Humana", composta por uma estante 88 livros que dariam o retrato de sua época. Aqui no Brasil foi publicada originalmente em 1954, com organização de Paulo Rónai. Foi reeditada em 17 volumes publicados pela Editora Globo entre 1989 e 1993. Na Wikipédia existe a informação que nessa reedição da foram retirados brilhantes ensaios críticos publicados em caráter introdutório (ou de prefácio) escritos por filósofos e romancistas. A relação das obras estão na página da citada Wikipédia, basta clicar no seguinte link https://pt.wikipedia.org/…/Obras_de_A_Com%C3%A9dia_Humana_d… Por uma série de acidentes que só a informática explica, você não vai chegar diretamente à página da wikepédia, mas vai ser aberta uma página que permite chegar lá. (Fontes de boa parte deste "textículo" partiu da leitura da acidentada de minúscula parte da obra de Balzac, da leitura das páginas da Wikipédia e da visão de George Lukács . Desculpe a esculhambação da edição, a pontuação claudicante e o fato de me meter nos domínios acadêmicos do pessoal das Letras) Bola pra frente! NR: Clique na imagem para ampliar e VER melhor

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