25.7.14

Homenagem do Gerdal : Ivon Curi ("in memoriam"): o ator da canção e "chansonnier" tropical de passo elegante pela via do entretenimento

*** "J`attendrai le jour et la nuit/j`attendrai toujours ton retour/j`attendrai car l`oiseau qui s`enfuit vient chercher l`oubli dans son nid/le temps passe et court/ en battant, tristement, dans mon coeur si lourd/et pourtant j`attendrai ton retour..." Prezados amigos, Como um Jean Sablon em miniatura e cantando, em 1939, do repertório do galante francês o nascente clássico "J`Attendrai", Ivo José Curi, caxambuense, ganhou, em sua cidade, um concurso de calouros. Contava, então, 11 anos de idade, revelando inequivocamente a veia artística que, do Circuito das Águas, em Minas Gerais, ao Rio de Janeiro (onde se fixou com a família a partir de 1940), levá-lo-ia, já Ivon Curi (fotos acima) na antiga capital federal, à fama, que também pegaria pela palavra dois irmãos seus, mais velhos: os locutores Alberto Curi (noticiarista) e Jorge Curi (esportivo - antes dentista). Na Velhacap, inicialmente, após defender o próprio sustento no Laboratório Silva Araújo e na Panair (nesta como vendedor de passagens), apresentou-se, pela primeira vez, às luzes da ribalta, em 1947, como "crooner", contratado por Caribé da Rocha para shows no Copacabana Palace, acompanhado pela orquestra do maestro Zacharias. Um período em que, também no rádio - cantando na Nacional como convidado de programas em que cintilavam Marlene e Emilinha Borba, entre outras vozes de prestígio -, a canção francesa de sucesso e sabor romântico ainda o amparava, destacando-se na interpretação aveludada da valsa "Pigalle" e do fox "C`est Si Bon". Um "chansonnier" tropical que, no entanto, na década seguinte, daria largas à sua comunicação com o público por outras vias de expressão: atuando em cinema e, na Atlântida, marcando um tipo na fase áurea da chanchada - janota, de ar aristocrático e chegado a trejeitos interpretativos -, além de, em sintonia de ondas curtas, dar uma guinada radical no repertório, redestinado, sobretudo, a ritmos nordestinos amplamente divulgados, como o xote e o baião. No exterior, aonde, consequentemente, os bem-sucedidos passos artísticos em solo pátrio o levariam, teve especial acolhida em Lisboa, com casas cheias que lhe renderiam elepês, em 1957 e 1959, pela RCA Victor - "Eu em Portugal" (vols. 1 e 2), quando já se exercitava também como um "entertainer", fazendo mímica e contando piadas. Na Odeon, em 1963, esse quê humorístico daria um gás à produção de "Um Espetáculo À Parte", ao qual, naturalmente, não faltariam faixas do gênero, como "Amor Naquela Base", de Moura Jr. e Zé Araújo, e "O Felizardo", esta de um surpreendente Vicente Celestino. Explorou o veio como compositor de valor - parceiro do autor teatral Meira Guimarães em "Casar É Bom" e do discotecário Paulo Gesta em "O Chato" -, embora na autoria solitária do belo samba-canção "Escuta", estourado com Angela Maria, houvesse levado às notas musicais, de modo ainda mais aguçado, a inspiração e a sensibilidade que lhe acorriam à alma. Faleceu, em 24 de junho de 1995, aos 67 anos, tendo alegrado, por alguns anos, na primeira metade da década de 80, as noites cariocas com concorridos shows em casa própria, o restaurante-boate Sambão e Sinhá - na Rua Constante Ramos, em Copacabana -, no qual, além de atuar, recebia artistas convidados. Se chique despontou para o palco, chique também dele o inconfundível Ivon se despediu, em espetáculo intitulado "A França e Quinze Saudades". Todas musicais, "bien sûr", e uma delas, em particular, vinda da centelha nostálgica de outro de seus ulalás "bleu, blanc, rouge", o monumental Charles Trenet: "Douce France/cher pays de mon enfance/bercée de tendre insouciance/je t´ai gardée dans mon coeur/mon village au clocher aux maisons sages/où les enfants de mon âge ont partagé mon bonheur..." *** Pós-escrito: a) dedico estas linhas ao amigo Luiz Cesar, cantor tarimbado da noite carioca que, ao lado de Carminha Mascarenhas e outros artistas, se apresentou no referido Sambão e Sinhá. Na recente minissérie "Gabriela", da TV Globo, em brilhante participação, ele pôde ser visto como cantor de tango do cabaré Bataclan; : b) nos "links" seguintes, com exceção do sexto, ouvem-se na voz de Ivon Curi: 1) "Sob o Céu de Paris", versão de Oswaldo Quirino para a valsa "Sous le Ciel de Paris"; 2) "Beliscão", de João do Vale, Ary Monteiro e Leôncio Tavares; 3) "Delicadeza", joia irônica de Pedro Rogério e Lombardi Filho cantada em sequência do filme "Depois Eu Conto", longa-metragem, de 1956, dirigido por dois bambambãs da chanchada: José Carlos Burle e Watson Macedo; 4) "Farinhada", do médico Zé Dantas; 5) "Foi num Trem", do saudoso cantor Luiz Cláudio e Nazareno de Brito; 6) "Escuta", de Ivon Curi, com Angela Maria; 7) "Sai, Menina!", xote de Ivon Curi, que aparece em imagem da comédia "Garota Enxuta", de J. B. Tanko, em cartaz em 1959; 8) "João Bobo", de Ivon Curi. Em "links" extras: 9) "J´Attendrai", com Jean Sablon, em registro original de 1939; 10) "Douce France", por Trenet, "en personne", em imagem de show do já longínquo 1963. http://www.youtube.com/watch?v=DTcRIyvpaww ("Sob o Céu de Paris") https://www.youtube.com/watch?v=UJq5bJ-9NSE ("Beliscão") https://www.youtube.com/watch?v=mmNZf_h9HdE ("Delicadeza") http://www.youtube.com/watch?v=Ra93OoMrYl0 ("Farinhada") https://www.youtube.com/watch?v=Tw8htircQyU ("Foi num Trem") https://www.youtube.com/watch?v=3d02myqxL3Q ("Escuta") https://www.youtube.com/watch?v=jEdG30PQVbY ("Sai, Menina!") https://www.youtube.com/watch?v=XRDy6_1VO8A ("João Bobo") http://www.youtube.com/watch?v=3duPUVjzCLg ("J`Attendrai") http://www.youtube.com/watch?v=kbQ5e5wt60s&feature=related ("Douce France")

Nenhum comentário: