20.1.12

Walter Levita: um discreto campeão do carnaval, o cantor de "Índio Quer Apito"




O carnaval já se avizinha, e um de seus campeões nasceu, em 1920, na mesma Ilhéus do escritor Adonias Filho: o cantor e compositor Walter Levita (fotos acima). Lá mesmo, ainda diletante na canção popular e já conhecido como seresteiro, foi chamado, certa vez, para abrir um show de Sílvio Caldas, o que resultou em atuação desastrada: esquecendo-se da segunda parte da valsa "Balalaica", do repertório de Orlando Silva, "encheu linguiça", por cinco vezes, na primeira parte, sendo retirado de cena. No entanto, perseverante e, de fato, bem dotado de expressão vocal, faria, um pouco mais adiante, em 1948, a sua estreia profissional como cantor, em Recife, na Rádio Clube, e, ainda pouco depois, dirigindo-se a Salvador, trabalhou em rádio e na noite local de 1949 a 1955. De outra feita, numa boate soteropolitana, ao perceber a presença na pista do baixinho todo-poderoso Assis Chateaubriand dançando com uma loira francesa alta e formosa, mandou ao microfone o "vou chamar o Dr. Assis/meu patrão sabe o que diz.." (de "Vamos Xaxear", de Gonzagão e Geraldo Nascimento e que Gonzagão gravara) para mexer com o empresário, o qual, apreciando bastante o cantor, convidou-o para trabalhar na Tupi, emissora dos seus Diários Associados, e na Mayrink Veiga, com a qual a primeira tinha um convênio nesses antanhos da radiofonia carioca. Como o pagamento era minguado, Walter Levita, recém-chegado e ainda um "quem" sem a fama que a folia lhe traria alguns anos depois, passou a frequentar o ponto dos músicos, em frente ao Teatro Carlos Gomes. Nesse reduto do Centro da Velhacap, ao encontrar o amigo René Bittencourt, carioca de Paquetá, manifestou-lhe sua disposição para trabalho extra, participando, dias depois, de uma função musical que o compositor de "Sertaneja" e colunista da Feira de Amostras, na "Revista do Rádio", apresentava em circo armado nas imediações do Morro da Mangueira. Entretando, "mal posicionado" na sequência de atrações, foi saudado, ao mostrar no palco a cara para a plateia, com apupos estrepitosos, porque, pouco antes, para seu azar, uma rumbeira de encher os olhos elevara a temperatura do show, cativando, nos seus requebros e maneiras, os varões presentes. Mesmo assim, com habilidade, René conseguiu serenar os ânimos, contornar a situação e atrair aplausos para o baiano, dizendo ser uma revelação do canto popular que carecia de chances para mostrar a sua arte, prometendo a todos um "final feliz", com o retorno posterior da dançarina-sensação..
         Apesar da vendagem regular e significativa dos seus discos na Odeon, em fins dos anos 50, como cantor romântico, ele, como se dizia então, ainda não abrira uma flor na gravadora, ou seja, não fizera um grande sucesso pra chamar de seu. Sentindo que este já estava a caminho, por meio de marchas assinadas pelo craque Haroldo Lobo, que conhecera na Sbacem, conseguiu vencer, sem êxito, contudo, de divulgação e execução, a relutância do diretor artístico da Odeon, Aloysio de Oliveira, que, vendo muito siso e nenhum riso na figura de Levita, considerava-o inadequado como intérprete para a folia. Como as aparências enganam, o erro de avaliação do ex-integrante do Bando da Lua viria, com Levita na Continental, amplificado pelo grito retumbante do povo, embalado, no passo momesco, pela euforia trazida por "A Maria Tá" (Haroldo Lobo e Mílton de Oliveira), em 1960, e, no carnaval seguinte, "Índio Quer Apito" (Haroldo Lobo e Mílton de OIliveira). Da escadaria da Biblioteca Nacional, emocionado, o cantor pôde ver, por dois anos consecutivos, a multidão, na Cinelândia, mesmo na chuva, cantando, a plenos pulmões, essas marchas. A letra na epígrafe diz respeito a outra de Haroldo Lobo (novamente com o habitual parceiro e caititu Milton), "Metade Homem, Metade Mulher", de 1963, gravada pelo discreto Walter Levita, infelizmente falecido, em setembro de 2010, aos 90 anos, em casa, em consequência de uma queda. Morava em Brasília, onde foi enterrado, no Cemitério Campo da Esperança, após passar longos anos de conforto, já distante havia muito do meio artístico, domiciliado numa casa grande em Itapoã.
         Um bom feriado a todos. Muito grato pela atenção.

         Um abraço,

         Gerdal

Pós-escrito: nos "links" seguintes, 1) Walter Levita canta a marcha "Adão Ficou Tantã", de Antônio Almeida, feita para o carnaval de 1969; 2) canta o belo samba "Até Você Chorou", de 1957, composto por Haroldo Lobo e Raul Sampaio, em "slide-show" com várias imagens deste último, cantor e compositor capixaba, ex-Trio de Ouro e primo do finado Sérgio Sampaio; 3) "Índio Quer Apito", com o balanço alatinado da Orquestra Mocambo; 4) como curiosidade, pela citação feita acima, "Balalaica", de Georges Moran e Armando Fernandes, em gravação de Orlando Silva datada de 1938.
 

         http://www.youtube.com/watch?v=u8Rmf39GeVc
("Adão Ficou Tantã")

         http://www.youtube.com/watch?v=2FgbBhwZauU ("Até Você Chorou")

         http://www.youtube.com/watch?v=VKUinyUR_bQ ("Índio Quer Apito")

         http://www.youtube.com/watch?v=gzQ6UjMbkYE
("Balalaica")

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