31.8.11

Ed Lincoln: o Mr. Balanço que sacudia a rapaziada na pista com aquele som de órgão para dançar





           "Pergunte ao João/ele sobe a picada/ele sabe a morada do meu barracão..." E o João também "sabia", em inesquecível e bem ritmada gravação, onde residia o sambalanço, que, nos anos 60, vicejou em paralelo com a bossa nova, a ponto de confundir-se com esta e ser chamado de "bossa nova de subúrbio" - dançante e menos intelectualizada. Na Musidisc (gravadora do compositor Nilo Sérgio, mentor da orquestra Românticos de Cuba), certamente o sambalanço dava as caras - mormente os ouvidos -, quando Ed Lincoln (fotos acima, uma delas de capa de elepê), um redator e revisor de textos cearense - vindo de Fortaleza para o Rio, de navio, em 1951, aos 19 anos, para estudar arquitetura -, nela se assentou, tornando-se diretor musical com o seu Hammond, que aprendeu a tocar no susto. Uma bela noite, foi chamado às pressas para substituir, em ausência imprevista, Djalma Ferreira, o líder do conjunto em que já tocava piano, na boate Drink. Do seu órgão, mais adiante, espetacular tirou um som que virou coqueluche em larga escala, a começar por festas então guanabarinas, um som na caixa também captado em seis álbuns "cult" (de 1960 a 1966, há pouco remasterizados e reunidos nos CDs da caixa "O Rei dos Bailes", pelo selo Discobertas), pouco depois do início instrumental ao contrabaixo, ainda Eduardo Lincoln, atuando em clubes e casas noturnas, como a boate do Hotel Plaza, em Copacabana, em 1955, quando fez parte de um trio (com o pianista Luiz Eça e o guitarrista Paulo Ney) que gravaria, pelo selo Rádio, o dez-polegadas "Uma Noite no Plaza".               
          Às voltas, nos dias correntes, com a alta tecnologia e programas de computador em gravações e produção própria, por vezes valendo-se de pseudônimos - como Cláudio Marcelo, Berry Benton e De Savoya, entre os vários que adotou ao longo da carreira -, Ed Lincoln tem seus discos não raro utilizados como fundo para a animação de coquetéis e desfiles de moda. Recentemente, mereceu uma bela lembrança de Emílio Santiago (que, a exemplo do uruguaio Humberto Garín, Pedrinho Rodrigues, Sílvio César, Orlandivo e Tony Tornado, foi "crooner" do conjunto dele), no primeiro CD, "Só Danço Samba", que o cantor realizou em selo próprio, o Santiago Music. Em 2003, a convite do cavaquinhista Henrique Cazes, Ed foi atração de série intitulada A Bossa Que Correu Mundo, no Centro Cultural Banco do Brasil. Saudade fez um sambalanço no lugar, e o show dele, com casa cheia, foi visto por uma plateia, em grande parte, ávida por entrar em sintonia com um tempo feliz de si mesma, o da própria juventude, quando a sonoridade do órgão elétrico também dava cartaz a outros tecladistas do ramo, como Walter Wanderley, Waldir Calmon, Celso Murilo (também revelado no Drink), André Penazzi, Ararypê, Ely Arcoverde e Lafayette, este em levada pop.   

        Um bom dia a todos. Muito grato pela atenção.

        Um abraço,

        Gerdal


Pós-escrito: nos "links" abaixo, o som de Ed Lincoln em 1) "Miss Balanço", de Hélton Menezes; 2) "Pergunte ao João", de Milton Costa e Helena Silva; 3) "Um Samba Gostoso", do próprio Ed; 4) "É o Cid", também de Ed, em parceria com Sílvio César; 5) "Passeio no Rio", de Luiz Bonfá (faixa de elepê, "Noite e Dia", que este e Ed, ao piano, gravaram juntos, em 1956, pela Continental); 6) "Catedral", de Celinho.
           

            http://www.youtube.com/watch?v=-TurPmKxUCc
("Miss Balanço")

            http://www.youtube.com/watch?v=mXaPa7XZCgs ("Pergunte ao João")

            http://www.youtube.com/watch?v=XOGLqThOlwY&feature=related
("Um Samba Gostoso")

            http://www.youtube.com/watch?v=g2zLWrOjvVY&feature=related
("É o Cid")

            http://www.youtube.com/watch?v=3ZOFd2lEftQ&feature=related
("Passeio no Rio") 

            http://www.youtube.com/watch?v=5Zfc6kC41E4&feature=related
("Catedral")    

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