26.12.10

O legado musical de Luiz Bandeira: que bonito é!





Nascido num dia de Natal, em 1923, e falecido num domingo de carnaval, em 1998, o pernambucano Luiz Bandeira (foto acima) é desses talentos da MPB de projeção discreta e reconhecimento abaixo do valor auferido. Ainda na Recife natal, esse cantor, compositor e violonista revelou-se na Rádio Clube de Pernambuco e, pouco depois, como "crooner" da Orquestra de Nélson Ferreira, apresentava-se no carnaval da cidade e em festas sociais. Nos anos 50, já no Rio, a convite de Caribé da Rocha, cantou na boate Meia-Noite, do Copacabana Palace, também na boate Drink, do pianista Djalma Ferreira - seu parceiro no samba "Volta", gravado por Miltinho -, e, mais tarde, em 1960, como integrante do sexteto de Radamés Gnatalli, viajou com a Terceira Caravana Oficial da Música Brasileira, prevista em lei aprovada do então deputado Humberto Teixeira - outro parceiro, em "Baião Sacudido" -, divulgando maravilhas do nosso repertório em universidades europeias, como a Sorbonne, em Paris.
         Luiz Bandeira é autor de sambas, frevos e baiões bastante executados, como "Torei o Pau", por Manezinho Araújo, "Cafundó", por Edu da Gaita, "O Apito no Samba" (com letra de Luiz Antônio"), por Marlene, "Na Cadência do Samba" ("Que Bonito É!"), por Waldir Calmon - o famoso tema do futebol do cinejornal "Canal 100" - e "É de Fazer Chorar" ("Quarta-Feira Ingrata") e "Voltei, Recife!", regravados há pouco tempo por Alcymar Monteiro e Alceu Valença, respectivamente. Para Clara Nunes, forneceu o sucesso de "Viola de Penedo" e, na parceria com Renato Araújo, Bandeira seria cantado no carnaval de 1958, por causa do samba "Madeira de Lei", de belo registro na voz de Heleninha Costa.
         Visto ao lado de Luiz Gonzaga, Humberto Teixeira e Severino Araújo em expressiva foto tirada num bar para a contracapa de um elepê que produziu para o Lua, Luiz Bandeira voltou em definitivo, em 1984, para Recife, "como sempre foi", ou seja, "um defensor sem limites" da nossa cultura popular, tão bem retratada na sua obra. Por isso mesmo, passados doze anos da sua morte, é de lamentar - ou "de fazer chorar" - que nada ou quase nada tenha sido feito para homenageá-lo, como um livro, um CD/DVD ou um show caprichados . Em apresentação na Sala Cecília Meireles, o também finado Barrosinho anunciou à plateia a disposição de lembrá-lo, em CD que só pôde situar-se na intenção, por meio da regravação do samba "Vaivém", dos anos 60, trazendo para o seu trompete jazzístico o sambalanço gafieirado de que Bandeira também era catedrático. Mistura fina, não?.           
         Um bom domingo a todos. Muito grato pela atenção.
 
         Um abraço,
 
         Gerdal

Pós-escrito: 1) nas outras fotos acima, reproduções de capas de dois discos de Luiz Bandeira: um, de 1957, do dez-polegadas "Luiz Bandeira Cantando na Boate Meia-Noite"; o outro, um CD que foi o último disco gravado por ele, já em Recife, em grande parte com músicas até então inéditas de sua autoria. Ganhei-o por gentileza de Marius Bandeira, filho do saudoso compositor, a quem dedico esta recordação da obra dele, assim como à viúva, dona Iracema, mãe de Marius;   
                    2) nos "links" abaixo, Luiz Bandeira por suas músicas inesquecíveis: 1) o coco "Viola de Penedo", cantado por um grande amigo dele, Luiz Gonzaga, composição hoje provavelmente alvo de crítica pela chatice do "politicamente correto"; 2) "Fulô da Maravilha", baião na linha do pé de serra por trio homônimo, antes gravado, em 1979, com muita graça - e arranjo de Celia Vaz - pela cantora potiguar Terezinha de Jesus no elepê "Vento Nordeste"; 3) a paraibana Elba Ramalho cai no frevo, em show realizado em Aracaju, com "Onde Tu Tá, Neném?"; 4) "O Apito no Samba", com coro, arranjo e orquestra regida por Luiz Arruda Paes, em registro de 1959, da Odeon: o "long-playing" "Brasil em Tempo de Dança", do maestro paulistano, um nome participante da inauguração da tevê no Brasil; 5) o mesmo samba da audição anterior, gravado com grande sucesso por Marlene em 1958, na voz da carioca Dorina; 6) pelo conterrâneo Alceu Valença, sobre uma série de imagens da Veneza Brasileira, este hino de Luiz Bandeira para o frevo da sua terra: "Voltei, Recife!"    
 
  
        http://www.youtube.com/watch?v=hWsHLl3xkOE ("Viola de Penedo")
 
       http://www.youtube.com/watch?v=038HiuDMpUg ("Fulô da Maravilha")
 
       http://www.youtube.com/watch?v=PeJAxUIaKO8&feature=related ("Onde Tu Tá, Neném?")
 
       http://www.youtube.com/watch?v=lG6jb6LipJI ("O Apito no Samba")
 
       http://www.youtube.com/watch?v=AUzMOZuiQZ8&feature=related ("O Apito no Samba")
 
       http://www.youtube.com/watch?v=VlVctBDu324 ("Voltei, Recife!")

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