17.8.10

Homenagem do Gerdal: Waldir Calmon - o pianista-referência de um Rio de Janeiro romântico e feito para dançar







 "Vou-me embora pro passado/que o passado é bom demais!.../os homens lá do passado/só andam tudo tinindo/de linho Diagonal/tem Alvarenga e Ranchinho/tem Jararaca e Ratinho/aprontando a gozação/tem assustado a vermute/ao som de Waldir Calmon..."
(do longo poema "Vou-me Embora pro Passado", do paraibano Jessier Quirino)

    
 
       Expressão musical, no topo da carreira, nos anos 50, de um Rio de Janeiro bem menos populoso, romântico e ainda ameno, o pianista Waldir Calmon (desenho e fotos acima), mineiro de Rio Novo, festejaria uma centena de verões no ano vindouro - era de 30 de janeiro de 1911. Tentou, a princípio, ao chegar à antiga capital da República, em 1936, a sorte como cantor, indicado pelo amigo Benedicto Lacerda para apresentações nas Rádios Guanabara e Transmissora, mas, pouco depois, trocaria acertadamente essa veleidade pelo piano, sendo dele, ainda como Waldir Gomes, o acompanhamento nesse instrumento da gravação original de Ataulfo Alves para "Leva Meu Samba", em 1941.Três anos depois, formou o seu primeiro conjunto, Gentlemen da Melodia (foto acima), com o qual tocou na boate Meia-Noite, do Copacabana Palace; animou, a convite de Eva Todor e Luís Iglesias, intervalos de espetáculos nos Teatros Rival e Serrador e marcou presença no Cassino Atlântico, em Santos. De lá foi para São Paulo, onde se tornou atração da boate Marabá, regressando dessa capital, em 1947, para atuar na então recém-criada Night and Day, quando os cassinos já estavam fechados em consequência do "choque de ordem" do governo Dutra. Oito anos mais tarde, deixando essa boate de neon cole-porteriano, criaria, no Leme, uma própria, referência das luas cariocas (motivadora do sacudido "Samba no Arpège", dele e do pernambucano Luiz Bandeira, e de uma de suas séries de elepês, "Uma Noite no Arpège - 1, 2 e 3") e rival de uma bem próxima, Drink, do também pianista Djalma Ferreira, situada nesse mesmo bairro praieiro, que dá título a gostoso samba de Roberto Nascimento, Armando Cavalcante e Vítor Freire, gravado por Johnny Alf ("Leme, a capital da madrugada...")  Em 1968, veio o canto de cisne do Arpège, pelo qual passaram, entre outros artistas de renome, João Gilberto, Tom Jobim e Ari Barroso, onde Vinicius conheceu Baden Powell e, em 1966, Chico Buarque fez um dos seus primeiros shows, ao lado de Odete Lara e do MPB4.
       Waldir Calmon foi, nos anos 50, pioneiro na gravação de discos de 10 e 12 polegadas com faixas únicas de "pot-pourri" (em um dos lados das bolachas), ininterruptas, próprias para a animação de festas domiciliares, extensão em microssulco dos concorridos shows dançantes que fazia em boates, clubes e até mesmo bailes de formatura. Também ajudou, nesses idos, a difusão do solovox (teclado acoplado ao piano, precursor do sintetizador), tocando no primeiro deles a chegar ao Brasil. Ele, que gravou "Rock Around the Clock" em ritmo de samba, lançou, em 1956, pelo selo Rádio, o elepê "Samba, Alegria do Brasil", que virou marco da discografia nacional porque dele saiu o registro de "Na Cadência do Samba" (Que Bonito É!"), um gol de placa do compositor Luiz Bandeira (que também passou pela Meia-Noite e seria "crooner" da Drink), inesquecível tema do futebol nas edições do cinejornal Canal 100, do "bon vivant" Carlinhos Niemeyer. Também marco da nossa discografia tornou-se outra das séries gravadas por Waldir Calmon, a Feito para Dançar - do primeiro ao duodécimo album -, ainda pelo selo Rádio, vendendo como banana na feira e mesclando destaques dos "hit parades" nacional e internacional. Trabalhando com pequenos conjuntos e grandes orquestras, de acordo com a solicitação do momento, ele teve em sua companhia grandes músicos, como os bateristas Édson Machado (que começou no Arpège) e Mílton Banana (que, antes de tocar com Waldir, era percussionista), o guitarrista Paulo Nunes e os percussionistas Rubens Bassini e Eddie Mandarino. Nos anos 70, passou pela churrascaria Roda-Viva, na Urca, e pelas cervejarias Bierklause, no Lido, e Canecão, em Botafogo, nesta por sete anos, com sua orquestra de baile, antes e depois do show principal. Bebia apenas água e refrigerante, mas fumava muito, morrendo de infarto do miocárdio em 1982. Um músico que, segundo Sérgio Porto, impressionava pela técnica, pelo virtuosismo, pela versatilidade e pela capacidade de adaptação a todos os ritmos dançantes, "tão verdadeiro num mambo, numa guaracha ou num foxtrote".                           ..
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Pós-escrito: 1) em duas das fotos acima, vemos Waldir Calmon apoiado em uma das suas paixões, o automóvel, sendo proprietário de vários, e ensaiando com Angela Maria para a gravação do elepê "Quando os Astros Se Encontram, de 1958, pela Copacabana. Amboa eram os maiores vendedores de discos da gravadora na ocasião;
                  2) nos "links" abaixo, 1) Waldir Calmon em raro registro dos anos 50, na TV Tupi, tocando piano e solovox com o seu conjunto (como o filme era orginalmente mudo, foi animado musicalmente pela gravação de "Samba no Arpège", de 1957); 2) ele e seu conjunto no longa-metragem "Hoje o Galo Sou Eu", de Aloísio T. de Carvalho, tocando o "Concerto Número Um", de Tchaikovsky, a "Polonaise", de Chopin, "Samba no Arpège" e acompanhando Neusa Maria em "Nova Ilusão", de Zé Menezes e Luís Bittencourt; 3) imagens do futebol embaladas pela famosa gravação utilizada pelo Canal 100; 4) como curiosidade, Márcia Calmon cantando "Pedacinhos do Céu", de Waldir Azevedo com letra de Miguel Lima (ela é criadora e mantenedora de um site em memória do pai), acompanhada pelo violão do marido, o internacional Tranka, maestro e realizador de numerosos shows no Brasil e no exterior, o qual, nos anos 70, tocou com Harry Belafonte, o rei do calypso, em turnê mundial.
  
         http://www.youtube.com/watch?v=7JHHK2ktWG4&NR=1
 
         http://www.youtube.com/watch?v=hfUIeYJSPrw&feature=related
 
         http://www.youtube.com/watch?v=5uCPo6p97Pw&NR=1
      
         http://www.youtube.com/watch?v=P_adT8JxrEI

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