27.6.09

Jacko - humano demasiado humano


Confesso que de cara não acreditei na notícia de que Michael Jackson tinha morrido. Pensei que era um dos truques de cena dele, como aquela em que ele subiu numa limusine e dançou, antes de uma das audiências de um dos processos que ele teve que se defender de acusações de pedofilia. Nesse ato, o danado do bad-boy desmontava a solenidade dos tribunais. Dava a idéia de que ele iria tirar aquilo de letra.
Quando na TV o repórter disse que parecia que ele tinha morrido, pensei com meus botões que ele estava arranjando uma desculpa para não enfrentar a maratona de 50 shows que tinha pela frente e para a qual não estava preparado. Faz pouco tempo, tinha lido uma matéria num site da internet, que informava que ele estava chateado, porque pensava que eram menos shows e não 50 apresentações…etc e tal…
O jornal Los Angeles Times já tinha dito que o astro tinha pegado o elevador, mas emissoras de TV demoraram um pouco para confirmar a notícia, e não deu outra: o rei do pop estava morto. A confirmação de sua morte foi como uma bomba num vasto videoclipe que passou pela minha cabeça, e não era uma cena de “Thriller” - Michel Jackson agora dançava entre cadáveres de verdade.
Ele que já era um mito na sua vida extraordinária, agora então vai virar algo que não consigo imaginar.
Durante sua vida conseguiu transfomar sua natureza exterior numa metamorfose impossível de ser inventada por Kafka. Dizem que foram 50 operações. Com próteses e tratamentos dermatológicos radicais, ele se transformou muitas vezes. Não tentem compará-lo a um camaleão, pois esse bicho não muda sua forma - Michael Jackson quase se transformou numa criatura cubista. Seu interior parece que era de um menino que não queria crescer, dizem seus amigos e pessoas próximas. Não é à toa, e vou chover no molhado, que ele comprou um rancho que se chamava “Terra do Nunca” e vivia melhor entre as crianças. Ele decerto tinha o complexo de Peter Pan, como afirma uma certa psicologia barata.
Dizem que era viciado em analgésicos, principalmente num remédio que tem o mesmo efeito da morfina, chamado “demerol”. O pessoal da fofoca descolou até uma música que ele teria feito em homenagem a essa droga. Tem gente que afirma que uma overdose dela seria a causa de sua morte. Muitas especulações vão rolar em peças baratas do mundo pop até em teses de mestrado e doutorado sobre multi-identidade, natureza e cultura na pós- modernidade etc e tal…
Saindo fora do folclore de sua pessoa, da sua hipocondria, da bizarrice e excentricidades de sua figura, da sua derrocada econômica, fica a sua obra resgistrada em vídeos e discos. E é impressionante. Não há qualquer dúvida de que ele era um fenômeno. Além de compositor, era um intérprete fabuloso, e um dançarino-inventor de coreografias geniais. Pode-se dizer que era um ator total: um artista completo que dominava toda a cena do palco, os efeitos especiais e os truques que comandavam as massas e as levavam a chorar , delirar e desmaiar. Pode-se dizer sua arte era uma performance única, irrepetível. Para executá-la era preciso uma força extraordinária, quase chego a dizer, uma imensa violência. Imagino que naquela aparência de meio-homem- meio máquina que se metamorfoseava na frente do público havia a ilusão de aquilo que poderia ser verdade. Isso exigia dele, mais do que o ser humano suportaria. Ser mais do que um homem de 50 anos - que na realidade ele era, apesar da aparência adolescente. E a tentativa de superar essa performance ou dar continuidade a ela, foi o principal motivo de sua morte.

Foi tentando essa missão impossível que ele sucumbiu. Um mártir do mundo pop que o imaginou super humano mas esqueceu que ele era apenas humano, demasiado humano. E para botar mais lenha na fogueira, olhando de uma certa perpectiva, pode-se dizer que ele conseguiu vencer o tempo, talvez seu maior inimigo. Morreu jovem, aos 50 anos, pelo menos dentro da mitologia. Nunca o veremos velho, carcomido, cheio de rugas e cabelos brancos, cheio de manias, cercado de remédios numa mansão em decadência…

Pode parecer piegas, mas acho que chega perto de uma verdade que nunca saberemos.

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