20.9.08

Nem sombra de Goya


Milos Forman e Jean-Claude Carrière me decepcionaram. Os dois escreveram o roteiro de Sombras de Goya (uma má tradução para o original Goya's Ghosts) que Forman dirigiu direitinho, mas que não capta nem a sombra do pintor e gravador (ou gravurista?) espanhol Francisco José de Goya y Lucientes.
O filme pega Goya, já como pintor do Rei , no caso Carlos IV. Retrata a volta do Tribunal da Inquisição , e o tal do Santo Inquérito, que havia perdido as forças e retorna com tudo, semeando a desgraça de muita gente, No caso, o Santo Ofício começa uma caça às bruxas (esta frase acho que foi cunhada aí) e mostra seus ferros e cordas - sua tortura que tem por objetivo a necessidade de fazer o "herege" (judeus, bruxas, ciganos e diferentes em geral) confessar.
O filme toma este tema como fundo.

Goya aparece apenas como um gênio da pintura, que nas cenas iniciais se mostra pouco sensível quando uma de suas modelos, uma jovem filha de um comerciante com remota origem judáica, cai nas garras da Inquisição. Até aí, tudo bem, ele foi um artista que lutou toda a sua vida para se tornar o pintor do Rei. É a posição que lhe garante o bom vinho e o bom queijo. E mais, além do que recebe da coroa ele consegue uma grana extra com os retratos que faz para a aristocracia e para os membros do alto clero. Se não fosse assim , ficaria à margem rodando de reino em reino na Europa a oferecer seus trabalhos.
Que ele zele pela sua posição, procurando se manter longe das contradições de seu tempo, dá para entender. O problema é que a história deste filme desliza para um caminho meia boca, no qual se destaca na tela, o romance entre um padre , Lorenzo, (interpretado por Javier Bardem) e a infeliz Inés (vivida muito bem por Natalie Portman). O caso acontece na prisão onde a moça foi trancafiada. Lorenzo é um oportunista, sacaneta que aproveita da situação desesperadora da moça e a traça com grande devoção espiritual. Goya nessa altura do campeonato fica como um banana a acompanhar o vai e vem destes personagens , as mudanças políticas , como a invasão Napoleônica e a Restauração Monárquica e o retorno da infame Inquisição.

Mesmo que Forman procure mostrar um paralelo entre a obra do artista e os "desastres humanos" da guerra e da intolerância religiosa, este ato, não é suficiente para alcançar a personalidade deste homem corajoso que pintou a rainha como uma baranga e o rei como um bocó , feios e que traçou com suas gravuras todo o perifl sinistro de sua época. Talvez s o ator que o representou (Stellan Skarsgård) não foi forte como deveria ser, ou a direção de ator falhou. Mas o que parece é que roteiro botou de lado o papel de Goya, não restando muito o que fazer para torná-lo mais potente. Parece que o filme de Carlos Saura, Goya en Burdeos, onde o diretor o capta já no fim de sua vida, no seu exílio voluntário em Bordeaux, foi mais feliz neste sentido. Nesse filme, os fantasmas de Goya aparecem com sua verdadeira cara.
Milos Forman fica devendo um filme que respeite mais o "biografado" e Jean-Claude Carrière uma história melhor. O episódio onde o pai de Inés demonstra a nulidade da tortura junto ao padre Lorenzo é risível. Fiquem tranquilos que não vou contar como foi a cena. Vai ver que alguém pode se interessar em ver este filme. De qualquer forma, para quem não conhece Goya ou sua obra, vale a pena assistir esta tentativa de aproximação de Milos Forman. Depois é bom procurar os "Gênios da Pintura" que encontrar à mão, uma Enciclopédia , um livro de História da Arte, ou pesquisar no Google mesmo para ver a magnífica obra deste homem e algumas informações adicionais sobre seu caráter.

5 comentários:

TS disse...

Um Goya interpretado por um viking Skarsgård? Não podia dar certo.

O filme de Saura assisti: é ótimo, menos pretensioso.
Bom Domingo.

LIBERATI disse...

Você disse a palavra certa, o filme de Saura não é pretensioso. É respeitoso - tem profundidade - Milos Forman que eu admiro de "O Estranho no Ninho" vacilou nessa empreitada e Jean-Claude Carrière pisou na bola com um roteiro media boca .O pior é que sou fã do Carriére pois fez os roteiros de Buñuel (um gênio) e o ajudou ao escrever suas memórias em "O Último Suspiro"
Fazer o que, até os grandes erram o alvo.
bjs e boa semana

ze disse...

acabei de descobri o vinho Bordeaux e estou comprando todas as garrafas no mercado; uma por dia; é barato. felicidades.

LIBERATI disse...

In vino veritas
grande abraço

Anônimo disse...

Parei aqui por um acaso e sua visão é muito tosca! Romance entre o clérigo e a moça? Mas vc não entendeu nada mesmo, hein??? Romance é bótemo! Estupro. Estupro.
Em cárcere privado depois de ser torturada. O que ela desenvolveu por ele foi uma síndrome de Estocolmo. Que visão tosca e machista a sua!!!!!!!!!