13.2.08

Fragmento do dia - Elias Canetti e a consciência das palavras

O corpo do homem é frágil, doentio e bastante vulnerável em sua nudez. Tudo pode penetrar nele, e a cada ferimento lhe fica mais difícil pôr- se em defesa; num instante está tudo feito. Um homem que se apresenta para uma luta sabe o que está arriscando; se não vê nenhuma vantagem a seu lado, arrisca ao máximo. Quem tem a sorte de vencer sente acréscimo em suas forças, apresentando-se com tanto mais empenho a seu próximo adversário. Apó uma série de vitórias, alcançará aquilo que que há de mais precioso para o lutador, um sentimento de invunerabilidade - e, tão logo o possua, ousará lutas cada vez mais perigosas. A partir daí, é como se possuísse um outro corpo, não mais nu, não mais doentio, mas blindado pelos seus momentos de triunfo. Por fim, ninguém mais pode afetá-lo : ele se torna um herói."
(Trecho do ensaio de Elias Canetti Poder e Sobrevivência em A consciência das Palavras - ensaios. Companhia das Letras - Tradução de Marcio Suzuki e Herbert Caro em "O outro processo- cartas de Kafka a Felice")
Nota da Redação: Elias Canetti( Prêmio Nobel de Literatura de 1981)é um potente pensador que além de seu premiado romance Auto de Fé produziu de magníficos ensaios com o bravo trabalho Massa e Poder que é considerado como sua obra prima . Nesse livro A Consciência das Palavras estão reunidos os mais variados ensaios que ele escreveu entre 1962 e 1974. Somente o primeiro que contempla o escritor austíaco Hemann Broch é de 1936. Leitura e releitura obrigatória. Esse homem viu o monstro nascer e o homem mergulhar na barbárie num processo que ele procura desnudar não utilizando nenhum modelo de análise, nenhum ismo, consciente da responsabilidade que é escrever. No caso dele, escrever bem.

2 comentários:

ze disse...

os momentos de triunfo são quando os exércitos entram em Roma carregando chegando de férias os espólios da economia de guerra: ainda vivemos um pouco esta economia de guerra quando às riquezas geradas são dados fim privados.

LIBERATI disse...

Canetti diz que o poder se realiza na sobrevivência diante da morte, se for do adversário é uma vitória, se for de um amigo, também é uma vitória do que sobrevive. Des-natureza humana.
Conclui mostrando o caso da suprema paranóia de Schreber (ex-presidente do senado de Dresden- um caso clássico mal analidado por Freud). Nessa paranóia o Führer só fica feliz quando está solitário, como o sultão de Delhi que mandou destruir toda a cidade para que não fosse ameaçado por nenhum súdito. O poder é solitário, só assim descansa.