27.9.07

Freud de Ralph Steadman é sublime


O Livro "Sigmund Freud" de Ralph Steadman é tão grande que não deu para "escanear" o bicho todo. Não é só grande no tamanho( sem duplo sentido, por favor), pode ser tranquilamente considerado um dos colossos da humanidade. Explico: trata-se nada mais, nada menos, de uma obra do inventor da caricatura moderna, se é que isso existe. Fora o tratamento técnico em que usa vários recursos gráficos e em alguns detalhes até parece gravura. Seu autor, Ralph Steadman é um dos pais de um tipo de caricatura radical que deu muitos filhotes pelo mundo. Ele, inglês de Wallasey, juntamente com outro inglês chamado Gerald Scarfe, subverteram a arte da caricatura levando-a ao inimaginável . Scarfe acho que foi além na arte da exageração. Sua série de caricaturas marcaram os anos 60 e 70 . Ele foi até as vísceras de Richard Nixon na época dos escândalos de Watergate e das tais fitas da Casa Branca. Caricaturou magníficamente as figuras do mundo cultural inglês, são célebres as suas distorções das figuras de Mick Jagger e Keith Richards. Margareth Tatcher,(é assim que se escreve?) a dama de ferro inglesa, ficou obscena. Suas impagáveis caricaturas políticas jamais foram igualadas em crueldade, com todo respeito, crueldade do bem. Ah! Já ia me esquecendo, de quebra fez os desenhos do filme do Pink Floyd , o famoso The Wall.
Steadman, por sua vez, mais clássico, mas não menos radical, também desbundou nas incríveis ilustrações que fez para as famosas reportagens da revista Rolling Stone escritas pelo inventor do "gonzo jornalismo", o atormentado da idéia do Hunter Thompson que , não faz muito tempo meteu uma bala na cabeça por pura coerência com sua vida descacetada. (Quem quiser saber quem era, inclusive com as ilustrações animadas, veja o filme de Terry Gilliam, "Medo e Delírio em Las Vegas "("Fear and Loathing in Las Vegas"- 1998) baseado no livro de mesmo nome de H.Thompson. (só um detalhe, Thompson no filme é interpretado pelo pirata do Caribe Johnny Depp e Benicio Del Toro é o Dr.Gonzo/ Oscar Z. Acosta, companheiro de "viagens" do jornalista "pra lá de Bagdá.
Mas voltemos ao " Freud", este livro que a Ediouro teve a coragem de publicar nessa terra que tem palmeiras ainda e onde o sabiá só canta com jabá e dança o miudinho no meio das balas perdidas. Lançar esse livro aqui é coisa de maluco, mas maluco beleza. Espero que publiquem também o trabalho que ele fez sobre Da Vinci.
O livro "Sigumund Freud" além de desenhos maravilhosos, e bota maravilhosos nisso, é uma viagem de Steadman no universo do chiste , isto é, a tentativa freudiana de classificar esse tipo de humor muito particular e sutil. E mais, traça de leve um perfil biográfico do barbudinho que criou a psicanálise e botou o homem de quatro, no bom sentido, e no mau, mostrando o quanto existe de animal, instintivo, besta-fera inconsciente no ser humano. Sabe-se que ele tentou explicar tudo, inclusive o humor e se deteve sobre o fenômeno do chiste no livro "Os Chistes e Sua Relação com o Inconsciente" no qual considerou o humor apenas do ponto de vista econômico, segundo ele diz na abertura de" O Humor". Mas não é essa economia de índices e porquinhos cheios de moedas , de investimentos libidinais em bolsas de valores e lavagem de dinheiro e trambiques do arco da velha que se praticam por aí. Isso é também sacanagem, é claro, e deveria ser objeto do estudo de Freud que vê no sexo e sua repressão a origem de muitos males da humanidade, mas essa do mercado é sacanagem no mau sentido. E disso entendia Marques de Sade.
Freud explica o que queria no começo de seu texto que trata do processo humorístico: "Meu objetivo era descobrir a fonte do prazer que se obtém do humor e acho qe pude demonstrar que a produção do prazer humorístico surge de uma economia de gasto em relação ao sentimento". O cara não era fácil. quer entender? Leia a edição da Editora Imago Volume XXI que carrega os seus textos antropológicos "O futuro de uma Ilusão" e "O mal estar na Civilização".
Eu pretendia fazer uma resenha do livro de Steadman, mas acho que o que se pode dizer é que ele é para ser admirado, sua leitura deve acontecer enquanto o leitor se deleita com o desenho em estado de pura graça. E a resenha, de resto. seria um aglomerado de palavras, nada mais do que palavras como diria o bardo, por sua vez, ele também, inglês.Salve a grande Albion!

4 comentários:

Anônimo disse...

Parece desenhado à canivete... dá até para imaginar o sangue a escorrer.
As letras dão o enfoque visceral do autor. Mesma fonte da capa do "The Wall" para Freud? Hmmm, o subconsciente explica.

Bom texto, Liber. Eu não conhecia tantos detalhes da obra dele.

LIBERATI disse...

Cara Tinê,esse Steadman é danado. Com 71 anos ele ainda desenha furioso no Guardian ou no Independent, acho que no segundo.Vou verificar. Agora, Gerald Scarfe é que desenhou The Wall, esse deveria também ter uma edição de luxo por aqui, o cara é terrível. Os dois são diabos ingleses com suas naves loucas cheias de nanquim.

Sizenando disse...

é incrível, tenho entrado aqui desde o início, e ainda nao consegui ver o tal desenho. pc é um inferno, a internet é um inferno, não ser programador e entender de pc é um inferno. isto aqui não está funcionando. será que froide explica... alguém precisa.

LIBERATI disse...

Calma meu querido amigo Sizenando. A imagem vai baixar, de repente, você precisa mudar de navegador. Isso acontecia vira e mexe com meu computador, via imagens distorcidas ou elas simplesmente não baixavam. Mudei de navegador, passei para o Firefox que é um puta navegador atualizado. Agora vejo quase tudo.
um abração